A Porteira, a Viola e Eu
A Porteira,A Viola e Eu
A portêra e a viola
O sertão adento e afora
Faço verso com o cabôco
Sô um solitáro cantadô...
Com a portêra falo da vorta
Ela sorri e me escolta
É a sodade de um sonhadô...
Desse chão sô uriundo
Distimido e fecundo
Quem tem fé, tem sorte
Disbrava de Sule à Norte
E nas andança sabe acriditá
Cum meu distino levo
A sodade da amada Teresa
Que cunheci nas vereda
E dos meus dois fio
A minha fonte de amar...
Eita sangue matuto
Terra pisada, chão bruito
Puêra sagrada, álima a aboiá
O meu caminho é cumprido
Mais Deus tá cumigo
E cum o pirigo sei lidá...
A viola no ponteio
Istrada afora corto no reio
O alimento no centeio
Sô metade dispois do meio...
Nas parage a matula
Uma boa cachaça na cuia
Paçoca, quêjo e rapadura
Debaxo do pé de Imbuia...
Viola no peitio
Uma canção raiz
Uma moda do jeitio
Desse matuto aprendiz.
Dispois vem a lombêra
Na sombra fresca da Aruêra
Inté sonho cum o barui da cachuêra
Lá na Serra da Trinchêra.
Minha criacão já discansô
Minha viola tamém
Já perparei a muntaria
É sigui a viage e amém.
Ao chegá naquele rio
Vô atravessá o meu gado
E no povoado
Vô à capela rezá...
Já cumpri minha impreitiada
E também o meu anjo da guarda
Meu cavalo tá arriado
Agora é enguli a istrada
E dento daquela paioça
No arto daquela roça
Tem arguém a me esperá
Dois fio e uma amada
Um cão na bêra da istrada
Pra mode me consolá...
Quando a minha álima
Avista o meu nobre rincão
A passarada faiz um arvoroço
Lá na grota do matão.
Dali brota a sinfunia
Cum a cascata a derramá
E no ingazêro a belezura
Do canto da Sabiá.
A portêra vai se abri
Cumprimentano a viola
Meu cantin é ali
E o sertão é a minha iscola...
A portêra e a viola
Amigas de um boiadêro
Cum elas entro de sola
Por este chão minêro...
Tinga das Gerais