Depois disso
Ainda é domingo
E só o que tenho é o rascunho de um poema
Que não decido se vale o pecado de escrever
Tenho as horas mortas prontas para correr
E uma saudade que insiste em não morrer

Mas não toca nessa tristeza...
Pode machucar e não ter mais cura
Pode acender feito uma ferida no peito
Não agarra o que a vida não segura
Nem refaças aquilo que foi desfeito
Porque desfeito deve de ter ficado perfeito
De um ou outro jeito, de qualquer jeito
Melhor não se fazer o que não se sabe por quê

Depois disso
Se quiseres, nem mais te adivinho
Nem indo nem vindo, e nem sonhando
Se quiseres, rasgo o rascunho e esqueço
Do pecado de ter querido ainda escrever
E me purgo do pecado da vontade de dizer

Mas não mexas nesses sonhos
Que preciso trazer todos fora de lugar
Não abras o pote grande da dor
Não arrumas a bagunça das emoções
Não varres os cacos espalhados pelo chão
Para que eu não fique sem ter onde pisar
Não abras nunca o livro de meus infortúnios
Para não veres nele o teu nome escrito...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 20/02/2011
Reeditado em 29/07/2021
Código do texto: T2804448
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