MEUS VERDES ANOS
Tomar um banho de chuva
Correndo pelo terreiro;
Ouvir os sapos cantando
Alegres, lá no barreiro.
Pegar cigarra com a mão
Cantando de tardizinha;
Tomar leite com açúcar
Do peito duma vaquinha.
Caçar rolinha no mato
Com meu cachorro Xaréu,
Fazer anzol com arame
E linha de carretel!
Fazer brinquedo de lata,
De madeira e de papel;
Brincar, sim, de toca-toca
E empinar pipa no céu.
Acordar de cinco horas
Ouvindo o cantar do galo;
Ir plantar milho e feijão
Com meu pai no seu roçado.
Com uma lata na mão
Contente com a fartura,
Gritando: “cai tanajura,
Que hoje é dia de gordura!”
Aprender o B-A-BÁ
Na Cartilha do A-B-C,
Levar umas chineladas
Pra poder obedecer!
Dormir sonhando com a feira
De Pilar toda surtida;
Com brinquedos espalhados...
Até carro de corrida!
Desculpe-me lhe falar
Dos verdes anos da vida;
Mas é que eu vivo a sonhar
Com minha infância querida!
"OH QUE SAUDADE QUE TENHO
DA AURORA DA MINHA VIDA!"
(Parodiando Casimiro de Abreu)
Tô revendo a minha terra,
A minha Pilar querida,
Mas cadê o paraíso
À margem do Paraíba,
Aonde vivi criança
E que guardei na lembrança
Por todos os dias da vida?...
Por que mudou tanto assim?
A velha ponte arrancada
Pela força de uma enchente;
Como ficou diferente!
A ponte nova tão alta...
Eu sinto mesmo é a falta
Da ponte velha da gente!
Oh como a vida mudou,
A natureza também;
Nos trilhos da nossa infância
Já não passa o mesmo trem.
Já não são as mesmas águas
Que correm no Paraíba...
Oh que saudade que tenho
Da aurora da minha vida!
A Serventia cresceu,
Cresceu a Estrada Nova;
Eu sei que o povo reprova
A tal da preservação;
Abraça a evolução...
Mas como estranha é a vista
Do barro que virou pista
E da mata que é sertão!
Oh que saudade tamanha
Invade meu coração;
De ver Seu Silvo Batista
Na venda da Estação,
Com seu refresco gelado
Que se tomava suado
Sem temer constipação!
Oh que saudade que tenho
Da aurora da minha vida!
Do meu pai na agricultura
Plantando inhame e maniva;
Da invernada chegando
E dos açudes sagrando...
E o povo gritando: viva!
Oh que saudade que eu tenho
De acordar de cinco e meia
E ouvir Seu Julho tocando
Rabeca em Chã de Areia;
Ou brincando, com carinho,
Com seu cavalo-marinho
Em noite de lua cheia!
Oh que saudade que eu tenho
Da minha infância querida;
De ver irmã Solidade
Fazer gostosa comida;
Bolo, canjica e pamonha...
Oh que saudade tamanha
Da aurora da minha vida!
DE VOLTA AO PASSADO
Pela estrada da memória
Estou de volta ao passado
Revendo o mundo encantado
Do meu tempo de criança.
Não vou fugir do presente
Mas essa vida inocente
Enche meu ser d’esperança!
Pela estrada da memória
Estou de volta ao passado
Por onde tenho encontrado
O Pilar em sua pujança,
Muito gado, agricultura,
Colhendo a cana madura,
E o povo enchendo a pança!
Pela estrada da memória
Estou de volta ao passado
Vejo-me todo suado
Chutando bola de meia
No meio da meninada,
Naquela terra sagrada
Chamada de Chã de Areia!
Pela estrada da memória
Estou de volta ao passado
Vejo Seu Julho enfeitado
Com seu “cavalo-marinho”,
Dançando todo sapeca
Ou tocando uma rebeca
Sentado no seu banquinho!
Pela estrada da memória
Estou de volta ao passado
Onde estudo, dedicado,
A Cartilha do ABC
E também a Tabuada
Com medo duma reguada
De Dona Antônia Tonê!
Pela estrada da memória
Estou de volta ao passado
Vejo meu pai no roçado
Plantando milho e feijão.
Com a camisa molhada
Nos pingos da invernada
Com grande satisfação!
Pela estrada da memória
Estou de volta ao passado
Escuto agora, sentado,
Meu avô contar estória
De Camões e Malazarte.
Sim, meu avô sabia a arte
De contar muita estória!
Viajávamos por planetas
Sem si quer sair do chão,
Segurávamos em cometas
Sem si quer queimar a mão!
O meu mundo era encantado,
Minha infância, uma glória...
Pela estrada da memória
Estou de volta ao passado!
CARRO DE BOI
Carro de boi, carro de boi,
(No caminho de barro).
Só conhece esse carro
Quem menino já foi!...
Carro de boi, carro de boi;
Lá vem o carro de boi!!
Corre menino, corre menina,
E pega carona no carro de boi!
E depois da carona vem o carão
-Quem foi que subiu? Quem foi?
Quem foi? Quem foi o atrevido
Que se subiu no carro de boi?!...
-Foi ele! -não foi! –foi ele! -não foi!
-Cuidado com a queda menino atrevido!
(E eu satisfeito, feliz atrevido,
Por ter me subido no carro de boi).
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