"Saudade"

Os anos pesavam-lhe tanto,

Mais, mesmo assim, ele estava a carregá-los sempre mais,

Com a força e determinação de um guerreiro.

No intimo, escondia experiências de tantos dias que passaram-lhe pela carne,

Cortando-lhe como foice os desejos e sonhos,

E acumulando-se nas gavetas da memória desarrumadas,

Cheias de quinquilharias e tesouros perdidos.

Umas tão vivas que vez por outra, vinham a tona

Sem que ele sequer percebesse, e vazavam pela voz de pacificador,

Como a calmaria de um oceano sem vento

Eram, reminiscências de um passado que marcará-lhe, as vezes como batom De lábios ardentes e apaixonantes, noutras, como o ferro em brasa da ingratidão que lhe impunham.

Tinha na fisionomia quase sempre triste um algo que encantava e dava-lhe um Ar de sobriedade e sabedoria, como se soubesse da vida tudo,...e ele sabia.

É essa a lembrança que tenho do meu avô...

Essa lapide muda, jamais poderá viver tanto para dizer com precisão quem ele fora, e qual o seu significado para mim.

Por isso, quero que essa lapide fria diga uma palavra apenas, uma palavra que Arde em mim, queimando-me por dentro como ferro em brasa, ...Saudade!

® Varley Farias Rodrigues