Era há um ano. Exato.
Na varanda sorvia a brisa
que vinha mansa e silenciosa do mar
e o olhar passeava os telhados vermelhos
a entender tanto de distâncias
e pensava nada, e nada me aturdia.
Mas as notícias não precisam mais do vento,
são trazidas por artefatos que pairam sobre nossas cabeças
a tocar o artefato aqui em baixo que jaz em nossos bolsos
e pronto! Tudo era. E o que era já não era mais, não era.
Ela tinha saído do mar aquele dia ainda muito mais bela
mais bela que o mais belo de todos os dias da vida
e ela era tão só minha e estava tão próxima
a um passo de um abraço, de um olhar, da saudade
a um átimo de mais um beijo, mais um beijo, um beijo
e dentro de mim vivia como que desde sempre e para sempre
e eu não sabia ou sequer nem imaginava tramar o destino
em que o tempo de repente podia me levar tudo
num só golpe do acaso que nunca havia sido previsto.
Minha mãe, e eu nem te disse o quanto eu amaria
essa mulher que nem viste,
foi o tempo então que carregou tudo
sem presságios, sem avisos, sem pressentimentos,
e eu mal sabia que a tristeza faria aniversário
para eu vestir a melhor roupa para o pior de mim
nem sabia o quantro sou assim de não esquecer.
Minha mãe, dorme em paz!
E um amor vai morrer em mim
por falta de fome, de sede e de desejo
por um tempo que passa impune, violento
como um vento desatento que carrega tudo
para um lugar onde só há esquecimentos.
Esquecerei? Não! E eu sei que não
não deixarei de querer algo mais
mesmo no oco dos momentos mais duros e cruciais.
E outras varandas e outros vermelhos nos telhados
outro olhar que só se perde e me carrega com ele
perdendo-me nesta brisa que não sei se vem do mar
mas que vem sempre de bem distante
distante da saudade de ainda amar...
Ah, essa saudade! Saudade de tanta saudade...
A Ercília Luiz Lizardo (20/09/1937 - 28/01/2010)
Na varanda sorvia a brisa
que vinha mansa e silenciosa do mar
e o olhar passeava os telhados vermelhos
a entender tanto de distâncias
e pensava nada, e nada me aturdia.
Mas as notícias não precisam mais do vento,
são trazidas por artefatos que pairam sobre nossas cabeças
a tocar o artefato aqui em baixo que jaz em nossos bolsos
e pronto! Tudo era. E o que era já não era mais, não era.
Ela tinha saído do mar aquele dia ainda muito mais bela
mais bela que o mais belo de todos os dias da vida
e ela era tão só minha e estava tão próxima
a um passo de um abraço, de um olhar, da saudade
a um átimo de mais um beijo, mais um beijo, um beijo
e dentro de mim vivia como que desde sempre e para sempre
e eu não sabia ou sequer nem imaginava tramar o destino
em que o tempo de repente podia me levar tudo
num só golpe do acaso que nunca havia sido previsto.
Minha mãe, e eu nem te disse o quanto eu amaria
essa mulher que nem viste,
foi o tempo então que carregou tudo
sem presságios, sem avisos, sem pressentimentos,
e eu mal sabia que a tristeza faria aniversário
para eu vestir a melhor roupa para o pior de mim
nem sabia o quantro sou assim de não esquecer.
Minha mãe, dorme em paz!
E um amor vai morrer em mim
por falta de fome, de sede e de desejo
por um tempo que passa impune, violento
como um vento desatento que carrega tudo
para um lugar onde só há esquecimentos.
Esquecerei? Não! E eu sei que não
não deixarei de querer algo mais
mesmo no oco dos momentos mais duros e cruciais.
E outras varandas e outros vermelhos nos telhados
outro olhar que só se perde e me carrega com ele
perdendo-me nesta brisa que não sei se vem do mar
mas que vem sempre de bem distante
distante da saudade de ainda amar...
Ah, essa saudade! Saudade de tanta saudade...
A Ercília Luiz Lizardo (20/09/1937 - 28/01/2010)