Apenas
Queria ser essa gota de chuva imperceptível
e cair bem perto de você
Ver seus olhos negros perder a esperança no sol
Queria ser esse som surdo e abafado
de chuva sobre o telhado
E ninar seu sono, como as cantigas
de infância, como lendas narradas por sussurros
E, ser o trovão ameaçador a lhe bramar graves verdades
E ser a eletricidade capaz colocar-lhe nos trilhos da razão
Mas não posso.
O meu abstrato é infelizmente concreto
Corruptivelmente arraigado ao corpo
E insólito pois não tem esperanças
Não verei mais seus olhos negros
profundos, não me recordarei de suas tristezas
e alegrias
Tenho que devotar-lhe a indiferença e o esquecimento
E continuar meu caminho até a morte.
Quem sabe depois de morta, eu vá renascer perto de você
E ser sua amiga, companheira ou mesmo conhecida
Ser sua cerca, seu cão, sua chuva ou lágrima
Mas não será mais eu,
será apenas transcendência..