OH QUE SAUDADE QUE TENHO DA AURORA DA MINHA VIDA!

Tô revendo a minha terra,

A minha Pilar querida,

Mas cadê o paraíso

À margem do Paraíba,

Aonde vivi criança

E que guardei na lembrança

Por todos os dias da vida?...

Por que mudou tanto assim?

A velha ponte arrancada

Pela força de uma enchente;

Como ficou diferente!

A ponte nova tão alta...

Eu sinto mesmo é a falta

Da ponte velha da gente!

Oh como a vida mudou,

A natureza também;

Nos trilhos da nossa infância

Já não passa o mesmo trem.

Já não são as mesmas águas

Que correm no Paraíba...

Oh que saudade que tenho

Da aurora da minha vida!

A Serventia cresceu,

Cresceu a Estrada Nova;

Eu sei que o povo reprova

A tal da preservação;

Abraça a evolução...

Mas como estranha é a vista

Do barro que virou pista

E da mata que é sertão!

Oh que saudade tamanha

Invade meu coração;

De ver Seu Silvo Batista

Na venda da Estação,

Com seu refresco gelado

Que se tomava suado

Sem temer constipação!

Oh que saudade que tenho

Da aurora da minha vida!

Do meu pai na agricultura

Plantando inhame e maniva;

Da invernada chegando

E dos açudes sagrando...

E o povo gritando: viva!

Oh que saudade que eu tenho

De acordar de cinco e meia

E ouvir Seu Julho tocando

Rabeca em Chã de Areia;

Ou brincando, com carinho,

Com seu cavalo-marinho

Em noite de lua cheia!

Oh que saudade que eu tenho

Da minha infância querida;

De ver irmã Solidade

Fazer gostosa comida;

Bolo, canjica e pamonha...

Oh que saudade tamanha

Da aurora da minha vida!

ANTONIO COSTTA