Herança de meu pai

Vejo o mundo da janela,

é tanta coisa que se passa,

mas nada,

nada fica no meu peito,

ninguém deita no meu leito.

Nada.

Nenhum nevoeiro,

nenhum travesseiro.

Nada.

E eu, cabeça feita,

levanto a suspeita de que nada...

Igreja aos domingos,

conversa ao pé do ouvido.

Preces.

Um terno bem surrado,

um teto tão suado.

Preces.

Datas sem presentes,

mas afagos quentes.

Preces.

Amor e disciplina,

mamãe heroína.

- Cresces!

Nada é tão incrível

quanto a herança de meu pai.

Nem o apartamento,

nem o que a TV me traz.

Nada na internet,

nem no caminhão de gás,

que me faça ver porque

quis ser um bom rapaz.

Samuel Neri
Enviado por Samuel Neri em 24/12/2010
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