Herança de meu pai
Vejo o mundo da janela,
é tanta coisa que se passa,
mas nada,
nada fica no meu peito,
ninguém deita no meu leito.
Nada.
Nenhum nevoeiro,
nenhum travesseiro.
Nada.
E eu, cabeça feita,
levanto a suspeita de que nada...
Igreja aos domingos,
conversa ao pé do ouvido.
Preces.
Um terno bem surrado,
um teto tão suado.
Preces.
Datas sem presentes,
mas afagos quentes.
Preces.
Amor e disciplina,
mamãe heroína.
- Cresces!
Nada é tão incrível
quanto a herança de meu pai.
Nem o apartamento,
nem o que a TV me traz.
Nada na internet,
nem no caminhão de gás,
que me faça ver porque
quis ser um bom rapaz.