FUGA


Ouço as batidas, carregadas de saudade
Que teimosas, insistem, onde não mora ninguém,
Ociosas, por loucura, na procura, impiedade,
Eu de guarda, na retaguarda e eu refém.

Por que não eu a dizer, não há mais nada?
E o que tinha de valor, já se levou,
Por que esta alma, a teimar se carregada?
Se do peso desta dor, já se livrou.

Os olhos, marejados, foram ligeiros...
Tão breve a lembrança se evadiu,
Quem sabe tenham sido os pioneiros,
A abandonar a este peito que ruiu.

A poltrona, há muito, sem uso
Que se afundou a nossa espera,
Tomou todo este tempo de abuso,
E, hoje em divã, se recupera...

Minhas mãos, meus sonhos e passos,
Só vistos, outra vez, em marcas à areia,
Talvez afogadas, por que o mar não receia,
A engolir num só sorvo os fracassos.