VERSOS AZUIS E MOLHADOS
(Sócrates Di Lima)
Lavei a face com as lágrimas da minha insensatez,
Enxuguei o corpo com a toalha da minha lucidez.,
Perfumei-me com aromas da minha maluquez,
E peguei a estrada da saudade mais uma vez.
Debrucei no para-peito da minha realidade,
Fitei o horizonte num olhar perdido.,
Senti no rosto o cheiro da saudade,
No perfume do amor envelhecido.
Traguei um gole de cachaça de Salinas,
Que desceu queimando como fogo morro acima.,
Bebida da saudade que rasgou minhas cortinas,
E me trouxe alucinógenas vontades de voar aqui de cima.
Mas, lembrei-me que não sou pássaro,
E que tão rápido desceria ao chão.,
Recuei-me num ímpeto, não tinha nenhum preparo,
Para ser mártir das coisas do coração.
Então, peguei caneta e papel,
Sentei-me á beira da janela.,
Rabisquei versos a granel,
Como se fossem pedaços de flanela.
Fui juntando um a um,
E percebi que tudo que escrevi tinha identidade.,
Tinham tantas coisas em comum,
Todos eles falavam de uma certa saudade.
Ao final percebi que tinha chorado,
E as águas que jorraram pelo rosto.,
Fizeram-me sentir aliviado,
Que eram versos para Basilissa que fazia com gosto.
E sobre páginas de um livro qualquer,
Palavras com sentidos claros e ordenados.,
Fizeram um poema do jeito que meu desejo quer,
São gotas de saudade azul em versos molhados.,