Insanidade Perfumada
(Sócrates Di Lima)
A noite deita-se sob meus olhos cansados,
Talvez seja hora de dormir.,
E não irei sem antes juntar travesseiros separados,
Para a minha última fragrância sentir.
Um ritual quase indescritivel,
Abrir o guarda-roupas bem devagar.,
Pegar na gaveta uma lembrança inesquecível,
Que faz minha saudade embriagar.
Envolvo os travesseiros neste odor,
Como se ali ela estivesse em sentinela.,
É como se derramado todo meu amor,
Sobre uma cama vazia, vista da janela.
E a fragrância em vidros toma conta de mim,
As lembranças são fios de navalhas afiadas.,
Corta minha carne sem que eu ache ruim,
Jorrando a saudade pelas veias bisturizadas.
O vidro de perfume aberto penetra minha alma que cede,
Como uma incisão na carne nua.,
Por onde infiltra a saudade rebelde,
E que sem dor, no corpo todo atua.
Então, em silêncio me deito como quem se deita no amor,
Na mente a imagem que não se apaga.,
No coração a vontade de voar como um sonhador,
E lá ao longe, sentir esta fragrância que tanto me afaga.
E ao findar da noite que me toma,
Talvez a procure na madrugada.,
Pois comigo dorme a saudade de Basilissa com aroma,
Nesta minha insanidade perfumada.