DESPEÇO-ME
Despeço-me de ti me despedaçando
com a ponta da caneta
com lágrimas escorrendo
com o engasgo na garganta.
Despeço-me, porque já é hora de irdes
porque o meu querer não te alcançou
porque é estupidez continuar e
já basta o meu sofrer de agora.
Despeço-me, pois me fechastes portas, janelas,
e eu insisti pelas frestas – tolinha!
Não mais verei teu nome em caixa alta
não mais me emocionarei com o toque de msg.
Despeço-me, necessariamente.
Da tua voz, do teu sorriso faceiro,
do teu olhar de bicho selvagem,
dos teus dedos longos e finos...
Despeço-me do teu desinteresse em me descobrir...
não quisestes adentrar minhas florestas,
nem ouvir meus pássaros, nem o ronronar dos meus gatos.
Preferistes as minhas margens, tão rasas...
Despeço-me. A bela adormecida se revoltou
e se cansou de esperas. Abriu os olhos que
fingiam estar fechados, soltou os gritos guardados,
rasgou as vestes que escondiam seus desejos
e saiu correndo, nua, sob a lua fatal do faz de conta.