DESPEÇO-ME

Despeço-me de ti me despedaçando

com a ponta da caneta

com lágrimas escorrendo

com o engasgo na garganta.

Despeço-me, porque já é hora de irdes

porque o meu querer não te alcançou

porque é estupidez continuar e

já basta o meu sofrer de agora.

Despeço-me, pois me fechastes portas, janelas,

e eu insisti pelas frestas – tolinha!

Não mais verei teu nome em caixa alta

não mais me emocionarei com o toque de msg.

Despeço-me, necessariamente.

Da tua voz, do teu sorriso faceiro,

do teu olhar de bicho selvagem,

dos teus dedos longos e finos...

Despeço-me do teu desinteresse em me descobrir...

não quisestes adentrar minhas florestas,

nem ouvir meus pássaros, nem o ronronar dos meus gatos.

Preferistes as minhas margens, tão rasas...

Despeço-me. A bela adormecida se revoltou

e se cansou de esperas. Abriu os olhos que

fingiam estar fechados, soltou os gritos guardados,

rasgou as vestes que escondiam seus desejos

e saiu correndo, nua, sob a lua fatal do faz de conta.

Lígia Martins
Enviado por Lígia Martins em 28/10/2010
Reeditado em 28/10/2010
Código do texto: T2583313