O relógio

O relógio já não acompanha

os meus movimentos

antecipa-se, veloz,

e posta-se à frente

dos meus calculados propósitos.

Se girasse os seus ponteiros

no sentido anti-horário

(dezenas de vezes, centenas, milhares...)

convidá-lo-ia para uma

caminhada matinal

pelo parque.

À tarde

faríamos a sesta

no avarandado do sítio

com vista para o fazer

nada.

Conversaríamos sobre:

- o amor estampado no acasalamento dos pássaros

em festa pelos pomares

- a chuva que, eventualmente, caindo lavasse as nossas almas

- o odor de terra molhada, a indelével esperança, a renovação do afago

- meu cão amigo que, certamente, vigiaria

nossos olhares

- música leve, paixões ardentes, entregas desmedidas

versos inacabados...

Tê-lo-ia ia como amigo

primeiro

mesmo ciente de que , ele,

em sua missão inadiável

jamais pararia

e, ao meu descuido,

todos aqueles bons momentos

seriam, certamente, tragados.

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