Crises de infância

Passo por crises de finansiedade

saio por aí preambulante

pelas ruas da idade

Lembro...

dos ladrilhos eu só lembro o cheiro

os petiscos acontecem a esmo

Mas num desses dias gnósticos

tudo veio como devia

como vem o devir

Sempre...

a infância vaza como as idéias geniais

como vazam as fofocas semanais

Acontece que quando criança

sem aio, sem livro, sem canto

aprendi, viajei, encantei

E bem antigamente eu vivia

o tempo não matava,

eu matava ele

Hora era um herói

outras era um cowboy

pulava de um pé só,

sujava-me sem dó,

Pó...

de dias passados eu me orgulho, eu conto.

Foi um conto.

Hoje nada paira, tudo corta, tudo marca

pele, passo, calvo.

casa, Ana, alvo.

Fui criança, fui eterno.

Sinto saudade, saudade plena.

não da infância, nada adianta.

mas, da vida.

Algo me diz ainda ser eu capaz,

a vida ainda suspira: viver vale a pena.

Só vale, [justamente]

porque viver é pena e infância.

não importa a idade]

Fernão Bertã
Enviado por Fernão Bertã em 07/10/2010
Reeditado em 27/10/2010
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