PORTO SOLIDÃO

Balouçar das ondas

barcos à beira do cais.

Angústias profundas, saudades

dos tempos da mocidade,

na pátria,que não verei jamais.

Olho as nuvens no horizonte

perdendo-se na imensidão do mar.

Eis-me desterrado neste ermo,

a vida chegando ao termo

sem poder,à pátria voltar.

Murmúrios do vento parecem

Vozes, dos que lá deixei.

No torrão saudoso e distante,

onde deixei confiante

meu lar, e não mais voltei.

As ondas beijando o porto

lembram-me os beijos de minha amada.

Aquele rosto meigo e querido

também no tempo ficou esquecido,

fragmentos de uma época dourada.

Vento enfunando as velas,

velas, vento e o mar.

Um conjunto em que a natureza

marcou em minhas tristezas,

Para o meu coração castigar.

Neste porto a solidão

é minha companheira fiel.

Brinda comigo na mesma taça,

fazendo-me sorver de graça

espumante e amargo fel.

Cai a tarde e o exilado

vai-se de volta para o nada.

E o cais marca mais uma história,

a batalha sempre inglória,

de uma alma desterrada.

Ademar de Paula
Enviado por Ademar de Paula em 05/10/2010
Código do texto: T2539532