Meu avô José Luiz
O meu avô José Luiz,
Já um velho
Para mim, menino ainda, parecia nem ter idade que se contasse
Passados pai e mãe
Passada esposa
Um filho
Quatorze de quinze irmãos
Esse José mantinha-se de pé
Mesmo com os rins falidos, um AVC e um coração partido
Ainda fazia suas artes
Tinha gases compridos, uma risada marota
Era um museu vivo de lembranças
De pé, na janela do meu quarto
Olhando não sei para onde
Temendo não sei o que.
Um dia suspirou fundo e me disse sem me olhar nos olhos
“É...a vida é como é,
não é como a gente quer”
Hoje,
Passado o meu avô
Fechado aquele museu
Eu entendo
Daquele dia que já tem certa distância
A imensa riqueza daquela herança
Se a vida é livre seu zé,
Graças a você
Desapegado de certas ilusões
Com ela eu consigo ser