Meu avô José Luiz

O meu avô José Luiz,

Já um velho

Para mim, menino ainda, parecia nem ter idade que se contasse

Passados pai e mãe

Passada esposa

Um filho

Quatorze de quinze irmãos

Esse José mantinha-se de pé

Mesmo com os rins falidos, um AVC e um coração partido

Ainda fazia suas artes

Tinha gases compridos, uma risada marota

Era um museu vivo de lembranças

De pé, na janela do meu quarto

Olhando não sei para onde

Temendo não sei o que.

Um dia suspirou fundo e me disse sem me olhar nos olhos

“É...a vida é como é,

não é como a gente quer”

Hoje,

Passado o meu avô

Fechado aquele museu

Eu entendo

Daquele dia que já tem certa distância

A imensa riqueza daquela herança

Se a vida é livre seu zé,

Graças a você

Desapegado de certas ilusões

Com ela eu consigo ser

Marcelo FAS
Enviado por Marcelo FAS em 30/09/2010
Código do texto: T2529594
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