VARAL DAS LEMBRANÇAS
Seca no varal as lembranças
enquanto o disco de vinil
ainda toca na antiga vitrola.
O sapato bicolor de verniz
foi encontrado sem os saltos;
ele já não é lustroso, é opaco.
O pé de maracujá
com suas flores exuberantes murchou.
Sabe aquele beija-flor?
Pois é, de jardim mudou,
cansou de esperar a rara flor.
O espelho de cristal foi quebrado,
o caminhão do lixo o transportou,
nunca mais a sala de estar enfeitou.
A rede da varanda
teve os punhos cortados,
virou pano de chão amarrotado,
só assim aquele vai e vem sossegou.
O principal não foi contado:
O sorriso encantado, feneceu.
Os olhos que enxergavam azul
agora enxergam breu.
Os cabelos negros
foram tingidos de prateado.
A voz da escrita silenciou.
O tempo passou...
O tempo passou...
O tempo...
Passou...