Lábios meus

Como Isaías tenho lábios impuros

E vivo no meio de pessoas de impuros lábios

Eles que são virgens de horizontes inseguros

Apresentam-se como pêssegos que deixam rosada minha face

Cerejas em calda quente

À lábios finos anseiam o enlace

Que um dia tornou seu contorno transparente

São sedentos

São rios

Sempre atentos em acalento

Em que às vezes pelo vento neles se embaraçam fios

Dos cachos meus que foram cortina que escondeu a lembrança de desalentos

Já sentiram a pele macia

De um rosto sublime e singular

E só há um beijo que alivia

O gosto de fel que está nele a impregnar

Nos lábios meus reflexo dos seus

Rolam lágrimas e pétalas negras

Regam a saudade do sorriso

Que deixou mais simples e suave a entrega