Primeira pedra - Cacos
não é o que fiz
nem o que disse
mas olho para o mundo
todos são santos
não atiro a primeira pedra
mas todos os dias
vejo uma multidão
a me apedrejar
o universo sensível
faz-me num lamento
chorar a angustia
de ser miserável
admito minha culpa
e quem pode me defender
a terra e seus habitantes
são todos inocentes
sou mentiroso frente
a uma geração axioma
onde a sinceridade é
uma fantasia
mas o que importa
quem quer saber
com tanto que a turba
esteja satisfeita
queria ainda ter o direito
de errar e ser humano
mas o que dizer
é direito dos outros
perdão para o povo
que nunca Peca
guilhotina para o poeta
que admite o desagrado
país iníquo memorável
passaporte para os justos
extradição para o meu eu
que antes do mau já era mau
mas e agora que mudou
nada foi diferente
continua assim
e eu vou vivendo
sentindo o peso
que já era meu
mas então somou
a perda da esperança
a nação é entendida
mas não há chance
para que eu receba
o sua compreensão
o que me resta
a migalha do silêncio
que a culpa me obriga
a carregar na pátria