Primeira pedra - Cacos

não é o que fiz

nem o que disse

mas olho para o mundo

todos são santos

não atiro a primeira pedra

mas todos os dias

vejo uma multidão

a me apedrejar

o universo sensível

faz-me num lamento

chorar a angustia

de ser miserável

admito minha culpa

e quem pode me defender

a terra e seus habitantes

são todos inocentes

sou mentiroso frente

a uma geração axioma

onde a sinceridade é

uma fantasia

mas o que importa

quem quer saber

com tanto que a turba

esteja satisfeita

queria ainda ter o direito

de errar e ser humano

mas o que dizer

é direito dos outros

perdão para o povo

que nunca Peca

guilhotina para o poeta

que admite o desagrado

país iníquo memorável

passaporte para os justos

extradição para o meu eu

que antes do mau já era mau

mas e agora que mudou

nada foi diferente

continua assim

e eu vou vivendo

sentindo o peso

que já era meu

mas então somou

a perda da esperança

a nação é entendida

mas não há chance

para que eu receba

o sua compreensão

o que me resta

a migalha do silêncio

que a culpa me obriga

a carregar na pátria

MarcondeSchifter
Enviado por MarcondeSchifter em 17/09/2010
Reeditado em 08/01/2022
Código do texto: T2503258
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