LEMBRANÇAS
De repente,
Sinto o cheiro de terra molhada,
Regada ao sabor da chuva repentina;
Abro a janela de minh’alma,
Que não precisa de cadeado,
E nunca teve cortina.
Olho para o horizonte,
E avisto em meu coração,
A desfraldar toda de branco,
Uma cortina de chuva,
Que se despenca das nuvens,
E alcança o tapete verde,
Verdes matas de minha terra.
O leve chuvisco cessa,
E dá lugar a forte chuva que cai
No terreiro de minh’alma;
Fecho a janela,
E agora da varanda,
Vejo a correnteza tomando forma.
O chão de terra molhada,
Que se faz em meu sonho,
Já não mais existe;
Sou feliz... Mas, estou triste!
E, de repente,
Vejo a correnteza na sarjeta,
E volto a mim de sobressalto;
Um bafo quente de chuva,
Com cheiro de óleo queimado,
Invadem minhas narinas,
Como fantasmas do asfalto.
E, assim estou,
De olhos lacrimejados,
Um caipira domesticado,
Prisioneiro da grande cidade;
Já não enxergo a cortina de chuva,
E o verde tapete da serra,
Que contemplei com felicidade,
Desde os tempos de criança;
E, assim sigo o meu fado,
De olhos lacrimejados,
Um caipira domesticado,
Prisioneiro das lembranças.