LEMBRANÇAS

De repente,

Sinto o cheiro de terra molhada,

Regada ao sabor da chuva repentina;

Abro a janela de minh’alma,

Que não precisa de cadeado,

E nunca teve cortina.

Olho para o horizonte,

E avisto em meu coração,

A desfraldar toda de branco,

Uma cortina de chuva,

Que se despenca das nuvens,

E alcança o tapete verde,

Verdes matas de minha terra.

O leve chuvisco cessa,

E dá lugar a forte chuva que cai

No terreiro de minh’alma;

Fecho a janela,

E agora da varanda,

Vejo a correnteza tomando forma.

O chão de terra molhada,

Que se faz em meu sonho,

Já não mais existe;

Sou feliz... Mas, estou triste!

E, de repente,

Vejo a correnteza na sarjeta,

E volto a mim de sobressalto;

Um bafo quente de chuva,

Com cheiro de óleo queimado,

Invadem minhas narinas,

Como fantasmas do asfalto.

E, assim estou,

De olhos lacrimejados,

Um caipira domesticado,

Prisioneiro da grande cidade;

Já não enxergo a cortina de chuva,

E o verde tapete da serra,

Que contemplei com felicidade,

Desde os tempos de criança;

E, assim sigo o meu fado,

De olhos lacrimejados,

Um caipira domesticado,

Prisioneiro das lembranças.

Amarildo José de Porangaba
Enviado por Amarildo José de Porangaba em 11/09/2010
Código do texto: T2491961
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