O Flautista
Ele veio assim, do nada,
sem dizer palavra alguma
sua flauta qual espada
de seu cinto ele tirou.
Soprou nela uma cantiga
de toada tão singela:
qual cavalos dum auriga
ratos mil enfeitiçou.
Seu serviço terminado
me pediu u'a recompensa,
o salário combinado
dar a ele me neguei.
Ele, pasmo e furibundo,
despediu-se formalmente,
desapareceu no mundo
e levou quem mais amei.
Ai, se acaso eu lhe tivesse
respeitado tal convém
eu lhe imploraria em prece
que me devolvesse o amor...
E é a vida qual flautista:
sem respaldo, não amada,
se enfurece, nos conquista,
tira a sorte e deixa a dor.