O Porto

Não fixei meus olhos em nada,
Lancei-os além do cais,
Lancei-os a junção do céu com os mares.
Aguardando que tua nau apontasse,
E tu, comandante do Barco-da-vida,
Viesses ao meu encontro, em doce resgate,
Chamando-me tua noiva, desposando meu leito.

Quando teus olhos aportaram em mim
Não sei se me vias,
E se era eu a tua escolhida,
Mas fostes o meu socorro do instante,
E eu já não era a Ana do dique nem das docas
Era simplesmente outra,
Uma Outra que eu nunca avistara.
Sei somente que fui e cheguei
Onde tu te encontravas
Depois tu partistes, eu fiquei...

Agora, mais uma vez,
Sem olhos fixos estou
De porto em porto,
De cais em cais,
Dia e noite;
Em chuva, tempestade ou sol,
Fitando o mar,
Buscando paz.


Brasília, 11/09/2006.
Para meu artista 

Ilustração: Gustav Klimt - detalhe do quadro Sea