QUE É FEITO DE MIM?

O meu canto lembra sempre Outono

Mas vou cultivando Primaveras

E sem descuido ou abandono

Faço delas minhas quimeras

Dos meus sonhos faço um jardim

Dos meus ais uma queda de àgua

Brota, límpida com cheiro a jasmim

Levando com ela minha mágoa.

Deixo-me consumir pela Vida

Trago a alma deserta de esperança

Na testa mais uma ruga perdida

Nada resta da menina da trança.

Abro minha vela ao vento norte

Nesta azulada tarde

Largo meus olhos pelo oceano à sorte

Devassada pelo vento minha saudade.

Há em mim um sudoeste impetuoso

Onde minha imaginação se aviva

E onde sonhar acordada eu posso

Sem da Vida me sentir cativa.

Desce o Sol sobre a crista do monte

Tudo recolhe na natureza

Estende-se o silêncio pelo horizonte

E em mim cai dia a dia a incerteza.

natalia nuno