Viagem

Viagem

Vida, moinho sem volta

nos leva sem permissão.

Luzes no vago da porta,

por onde os anseios vão.

Persigo a aurora antiga

e a primavera também.

Mas ,eis,o outono se achega

e joga o perfume além.

O canto dos rios me guia

além, bem além da canção.

O peito se fecha de frio

na geleira da amplidão.

O pranto corrói por dentro

onde o silêncio é prisão.

sopra a saudade o vento

e orvalha o coração.

Caminhos turvos, dispersos...

meus olhos buscam visão

A caminhada se veste

de dor e de solidão.

Cessa a cantiga lá fora

emudece o violão

Resta o vazio de agora

miragem, vago clarão.

Tua presença mais terna

medra em meu peito ateu

minha ansiedade desterra

saudade no peito meu.

O encanto, o sonho se vão

no tempo que pereceu.

A noite já principia

sombra perdida no breu.

É a vida que jaz sombria:

estrela de luz sem fim

no infinito do meu tempo

que foge, escapa de mim.

Prevejo a indizível viagem

no desatar da coragem

na ausência que não tem fim.

Marilia Abduani

Para o meu pai.

Marilia Abduani
Enviado por Marilia Abduani em 24/06/2010
Código do texto: T2337916