Os olhos de Fernanda
Dai-me, Musa, um momento de eloquência
Pra cantar os encantos justamente
De quem da Beleza tem proficiência!
Juro, ao possível, cantar brevemente;
Ainda que ela me tanto inspira
Tamanha fervura a este peito rente!
Fazei com que a arte se me suspira
Nuns valores; proporcionai-me canto
Que de ledice parte lha transfira!
Coberta estando pelo virgem manto
De donzela, sempre d’escuro véu,
Canta-me, ora, o peito como quis tanto:
Senhorita: são teus olhos de mel
Mais claros do que o radiante sol,
Mais lindos do que o cerúleo céu!
Deles a luz meu sonho iluminou;
Luz que [de fogo tamanha ardência!]
Quanta tristeza me desbaratou!
Da lindura eles têm proficiência;
Ah!, ao ledo devaneio conduzem
Co seu tom de castidade e decência.
Quantos tremores, suspiros produzem
Ao ‘spelharem tantas, astrais belezas
Qu’em meus olhos tão terrenos reluzem!
Só eles fortalecem minhas fraquezas;
Encorajam-me contra o meu temor;
Relembram-me das feminis purezas!
Só eles simbolizam-me o Amor;
Mas deles, Senhorita, uma mudança,
Um desvio desatinam-me dor!
Que nada os equivale na possança
Que tanto maravilhoso feitiço
Entre um brilho e um rebrilho me lança!
Destarte, ao seu bel-prazer ‘stou submisso;
Se me pedes que diga: logo digo;
Se que te olhe: olho co meu tom postiço!
Ah!, esses olhos de mel que contigo
Trazes tanto mais doces que a doçura
Do primoroso chocolate amigo!
São eles o brilho da formosura;
Uma e outra preciosíssima pepita
De inefável lindura e de luz pura!
E são teus!, somente teus, Senhorita!
Conquanto toda esta humanidade
Inveja-te a cor bela e favorita!
Ai de mim! Como cultivo saudade
Do teu generoso olhar – Olhimel!
De rara, deiforme preciosidade!
Ah!, mais lindos que o cerúleo céu!
Garbosos, vítreos faróis orbitais
Que alumia tudo que escureceu;
E qu’esquecer eu poderei jamais!