SONHEI COM A PRIMAVERA

Olhai as nuvens negras

como fogem!

E o vento sibilante

emudeceu!

Já não treme de frio

o indigente,

e que azul tão brilhante

o azul do céu!

Do chão se eleva um bafo

de húmus

morno

cheirando à mais viril

fertilidade!

Além, no açude velho

na represa,

há segredos de amor

murmúreos leves!

Ressurge a Natureza

exuberante,

nos vales

nas campinas

nas alturas.

Regressam aos beirais

as andorinhas,

e os prados se matizam

de boninas.

Renasce a Natureza

e na minh'alma

surgem também

as flores da alegria,

das aves a sublime

vibração!

Há em mim rebentos de esperança

há risos

gargalhadas de criança

e um novo prado em flor de fantasia.

....................................................

Acordei.

Há muito é dia.

Afinal era um sonho

uma quimera.

E apesar de tudo

ai quem me dera

abrir de par em par

o coração

e encerrar nele

para sempre

a Primavera.

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Este poema foi escrito por mim quando

estava em África, no norte de Moçambique,

como militar, e foi publicado no boletim da

Companhia, "O Camuflado".

Só mais tarde veio a sair no meu

primeiro livro, "Descontinuidades".

Onde eu estava não havia Primavera

e eu sentia saudades...

Orlando Caetano
Enviado por Orlando Caetano em 03/09/2006
Reeditado em 21/09/2006
Código do texto: T231752