Fez-se um poema de saudade
Que a tristeza vinda se vá,
Arrolada na herança finda,
Legado de dor que a pouco ainda
Fez a lágrima desinibida flutuar.
Do etéreo nada quero,
Do espúrio tão pouco almejo.
Se não fosse a mágoa de um beijo,
Erguer-me-ia outra vez em despedida.
Já se foi o tempo quando
A noite se passava sonhando,
O dia raiava de um sonho.
Hoje renego tudo quando me ponho.
Debruçado na ausência, pisando sombra,
Vultos esquivos, fugitivos da luz,
Nobres cavaleiros da solidão,
Infestando os muros dos castelos
Sombrias edificações sonhadas.
Hoje, são ruínas despojadas,
Desfeitos da mais simples riqueza
A mais modesta fonte de pureza...
O amor, acabado, desbotado,
Sem os azuis da primavera
Retido nas hastes verdes.
Apenas, a solidão fica como vendeu,
No encontro do papel escrito
Em suas trêmulas mãos
Iluminadas pelos olhos que não brilham,
Como antes brilhavam em minha poesia.