Solidificando a saudade
Vou quedar com a chuva,
Rastrear sua última passagem,
Na terra, na grama, no lodo da rua.
Vou cativar seu cheiro,
Borbulhar suas formas nas marcas que ficaram,
Depois, depois vou molhar o molhado,
Retalhando cada fatia de saudade.
Vou quedar na água que corre,
No leito adormecido das corredeiras,
Tudo para saborear,
Conter mais um pouco o tempo,
A extinta hora dispersa,
Quando fomos aurora,
Antes que o crepúsculo chegue.
Vou, sei que vou ser perpétuo
Perene enquanto houver fôlego,
Atropelo de vida,
Em noites subseqüentes,
Manhãs se limitando,
Retidas apenas na formação do calendário.
Hei de ser eterno infinito
Entre as cortinas da chuva miúda,
Sob o peso da procela
Tudo por não saber virar a página,
Queimar os papéis,
Apagar marcas deixadas
Mesmo que sejam naquelas ruas,
Rastreadas infantilmente,
Apenas buscando um torrão endurecido de saudade.