Doce e amada noite
Se te escrevo noite escura,
Quando a luz se vai ao longe,
E que de tanta saudade medra
Na laje fria da pedra
Onde o corpo acamado estende.
Se te falo noite vazia,
Das queixas que não consigo esconder,
Nem na posse direta pelo poder,
Desejo árduo de ser o que não sou,
Elo passado e nas correntes da vida.
Se te grito noite umbrosa,
De acalantos, nênias furtivas,
Serenatas sem raios lunares,
Nem sombras, reflexos nos mares,
É por que sou calado em seus braços,
No silêncio que silencia tantos segredos.
Se te banho em lágrimas,
Faço cair o pano findando,
A expectativa do aplauso,
Te fecho entre cortinas de amores,
Penumbras, silhuetas nuas enlaçam-se,
É porque amo-te na poesia,
Sufocando caminhos ensolarados,
Raiando a gaivota no azul,
Bailando o vôo livre do pássaro humano.
Se te escuto, me ouves,
Trago a doçura dos abraços,
O aperto dos beijos,
Afagos nos pequenos lampejos
Enquanto posso entender,
Tanta solidão em minha alma sempre,
Sempre noite...