Veículo chamado saudade

Quando muito, faço pouco,

Nas horas que o sono não chega,

Da viagem partida do ontem.

Quando pouco, faço muito,

Uma chuva de guarda, de vigília,

Tentando assassinar o tempo,

Escondendo-me entre as linhas,

Vendo os vagões de vocábulos passarem,

Suplicando o embarque,

Faço-o na palavra amor.

Ah, doce loucura que ficas pouca,

Desencarrilando vejo-me alheio, tomado,

Tombado no vagão que vem,

Na palavra crua, nua

Que ofusca a hora, a saudade,

Nele viaja o inesgotável tempo,

Vadio, incerto, marcante.

Não vou não me levo a lugar algum,

Se não o caminho de volta,

Retorno a noite sem sono,

Onde faço muito, recebo pouco

E quando pouco faço,

Encontro perdida no espaço,

No papel que voa a silhueta dela

Galopando nos véus da saudade

Jogando poeira em meu rosto

Para que bem pouco mais eu faça,

Sem ter tido o sabor do muito,

Do antes inacabado.