Lembrança

Nasce mais um dia

E estou aqui sempre

Sempre aqui.

O galo canta ofegante

E às claras

Lírios do campo

Majestosos reluzem

Como mantos fios de ouro

As roupagens de Salomão

Rei de Sabá.

Como rei ergo-me

E a lida começa infernal.

A labuta da matina aurora me invoca

E meu pensamento, embora adormecido

Ainda está com você.

Deixo de ser rei do Oriente

Agora, apenas peão do mundo

Mas meu coração continuamente

Arde ditoso em você.

É preciso esquecer-lhe

Já que a alvorada reclama

Pelo sangue e suor

Do meu corpo operário.

Como zangão da fábrica da vida

O turbilhão ao meu redor titubeia

Continuo, labuto...

Sendo absorvido pelos tridentes

Poderosos das caldeiras

Do meu chefe: Hades.

Meio dia

Setas voam

Para abençoar, ou maldizer a humanidade

Que é pobre, torpe

Pura, pueril...

Também paciente e fatídica

Como sou.

É neste momento

na parada do amargo serviço cotidiano

Que mais uma vez esqueço

Que esquecer-te é loucura...

Esquecer-te

Será sempre lembrar

De você.

Marco Antonio Cabral Pereira

Marco Kbral
Enviado por Marco Kbral em 02/05/2010
Reeditado em 06/05/2018
Código do texto: T2232320
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