Lembrança
Nasce mais um dia
E estou aqui sempre
Sempre aqui.
O galo canta ofegante
E às claras
Lírios do campo
Majestosos reluzem
Como mantos fios de ouro
As roupagens de Salomão
Rei de Sabá.
Como rei ergo-me
E a lida começa infernal.
A labuta da matina aurora me invoca
E meu pensamento, embora adormecido
Ainda está com você.
Deixo de ser rei do Oriente
Agora, apenas peão do mundo
Mas meu coração continuamente
Arde ditoso em você.
É preciso esquecer-lhe
Já que a alvorada reclama
Pelo sangue e suor
Do meu corpo operário.
Como zangão da fábrica da vida
O turbilhão ao meu redor titubeia
Continuo, labuto...
Sendo absorvido pelos tridentes
Poderosos das caldeiras
Do meu chefe: Hades.
Meio dia
Setas voam
Para abençoar, ou maldizer a humanidade
Que é pobre, torpe
Pura, pueril...
Também paciente e fatídica
Como sou.
É neste momento
na parada do amargo serviço cotidiano
Que mais uma vez esqueço
Que esquecer-te é loucura...
Esquecer-te
Será sempre lembrar
De você.
Marco Antonio Cabral Pereira