QUIMERAS

Guardei os sapatos de cetim

E o vestido de levar ao baile

Juntei-lhe perfume de jasmim

Ficou na memória o xaile

Pobre do xaile e de mim!

Desvanecem-se os pormenores

A saudade é tudo o que resta

Dos bordados e bastidores

Dos meus primeiros amores

Quando a Vida era uma festa.

O futuro é corredor escuro

E o amor fogo que ardeu

E não há nada mais duro

Que na Vida o que se perdeu

Vejo-me ao espelho não sou eu

Já nem sei o que procuro.

Olhos às nuvens erguidos

Lembram mãos que se apertavam

Lembram os beijos furtivos

Os abraços que se davam

Cartas escritas se rasgavam

Mas já esqueci os motivos.

Tenho que dar ordem à Vida

O tempo é quem tem a culpa

De me trazer esquecida

Sem sequer me pedir desculpa.

Dor sem peso nem medida.

Tardava em adormecer

Amar era um trinta e um

Mas pior era não ter

Na vida amor nenhum.

Que importa!?Que me importa!?

O que lá vai é esquecimento

Trago a viagem já morta

Promessas leva-as o vento.

natalia nuno

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