Poesia gramatical
Na hora poente
Sangra o sol na minha frente
Esvai-se o verão indolente
E persiste o outono tórrido
De árvores desnudas
De inteligência ilógica
As folhas bastardas se resguardam
do vento à sombra da casa,
espalhadas pelos cantos
e seu farfalhar
sussurra sobre o sagrado
ciclo da vida
chega o breu da noite
iluminada por estrelas
balões percorrem criminalmente
o céu
prosseguem impunemente
em silêncio criptante de buchas
queimando
resta uma nesga de nuvem
apagada pelo breu a noite
e a lua solitária e sisuda
a embriagar de lirismo
a reta gramática dos dias
que se transformam em noites
e, findam sem ao menos
balbuciar seu significado.
A reta irregular e sinuosa dos corpos,
Dos sentidos que preconizam sofrimento
E a lágrima que insana dissolve dor em água.
Essa é a gramática da poesia.
Rir do absurdo. Chorar por verdades. Ser reta entre sinuosas
Gemer por entre estrofes, tripudiar das rimas
Que não ensina a parar de reclamar,
a declamar o passado, o presente ou o futuro.
A gramática da poesia
Não conhece pessoa, plural ou mesóclise...
Somos todos umas mesóclises irresignadas
pelo verbo vadio e são.
Que estabelece o uso correto da língua, da fala,
da expressão e das almas.
Somos morfologia, sintaxe e semântica
Tudo junto ínsito na poesia latente em nós.