Poesia gramatical

Na hora poente

Sangra o sol na minha frente

Esvai-se o verão indolente

E persiste o outono tórrido

De árvores desnudas

De inteligência ilógica

As folhas bastardas se resguardam

do vento à sombra da casa,

espalhadas pelos cantos

e seu farfalhar

sussurra sobre o sagrado

ciclo da vida

chega o breu da noite

iluminada por estrelas

balões percorrem criminalmente

o céu

prosseguem impunemente

em silêncio criptante de buchas

queimando

resta uma nesga de nuvem

apagada pelo breu a noite

e a lua solitária e sisuda

a embriagar de lirismo

a reta gramática dos dias

que se transformam em noites

e, findam sem ao menos

balbuciar seu significado.

A reta irregular e sinuosa dos corpos,

Dos sentidos que preconizam sofrimento

E a lágrima que insana dissolve dor em água.

Essa é a gramática da poesia.

Rir do absurdo. Chorar por verdades. Ser reta entre sinuosas

Gemer por entre estrofes, tripudiar das rimas

Que não ensina a parar de reclamar,

a declamar o passado, o presente ou o futuro.

A gramática da poesia

Não conhece pessoa, plural ou mesóclise...

Somos todos umas mesóclises irresignadas

pelo verbo vadio e são.

Que estabelece o uso correto da língua, da fala,

da expressão e das almas.

Somos morfologia, sintaxe e semântica

Tudo junto ínsito na poesia latente em nós.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 30/04/2010
Código do texto: T2228395
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