Lágrima dourada
Perdi minhas lágrimas na chuva
Lá fora
As gotas escorriam retas e oblíquas
retilíneas e turvas.
A embaraçar meu coração agregado
a um corpo que era só meu em
espírito...
Perdi minhas lágrimas na chuva lá fora
No minuano a uivar pelos tempos
Nos pampas a galopar sem sentido
no frio da noite
Perdi minhas lágrimas
Gota a gota
Como a vida a escorrer por anos a dentro,
Pelos ralos do sentimento,
Pelas palavras ditas ou não...
Pelo silêncio entrevado de angústia e
reumatismo.
Perdi minha lágrima
Minha última lágrima humana
Minha derradeira forma de sentir
Congelei e no cristal da noite
No ápice do noite
Na violação do luar...
Na nuvem retirante que
se esqueceu de dissipar-se.
Meus laivos,
meus gritos,
minha humanidade
Líquida e congelada
Foi perdida pelo horizonte
de um dia gelado
qualquer.