IRREQUIETA MEMÓRIA
Qual pedra que vem destroçar
O vidro da minha janela
É relampago p'ra me atentar
Vivemos na mesma pégada, eu e ela.
Lembra-me o que quero esquecer
Faz esquecer o que quero lembrar
Se me ausento sem querer
Do meu silêncio me quer arrastar.
Trepando as muralhas da nostalgia
Logo me desarruma o pensamento
Me deixa triste, só, vazia
E a inquietação se faz tormento.
Me tira o sono quando me deito
Às vezes até me fere a alma
Deixa os olhos marejados a dor no peito
Mas quando amigas ela me acalma.
Memória cheia de ruas
Onde sempre me procuro
Grito aos quatro ventos às luas
Quando não me deixa no escuro.
Trazes-me do rio o murmurar
E cada beco da aldeia
Nas àguas doces, lá estou a mergulhar
E a remergulhar, volta e meia!
Dizes-me coisas ao ouvido
Que nem me atrevo a escrevê-las
Desse nosso mundo já perdido
Mas que não quero esquecê-las.
Quero pedir que não me mintas
Agarra-me bem sempre à verdade
E quando a morrer te sintas!?
Memória!? Choremos as duas antes...a saudade.
natalia nuno
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