Miragem
Sinto correr no ar um vento diferente
e estranho a este outono
em que vivo o meu inverno.
Uma brisa como aquelas que a gente
imagina que conduza o sono
ao sonho, ao que é eterno
e vive em nossa mente.
Presto atenção, e percebo que a aragem
é muito mais que um vento;
tem um nome, um rosto e uma imagem
que se percebe solta pelo ar,
e que, com a força do meu pensamento,
completa com inteira perfeição
a miragem que o passado, em algum dia,
me fez como verdade acreditar
para depois, no escuro de um tornado
em que se transformou a ventania,
deixar ainda mais triste e desolado
todo o deserto do meu coração.