O momento de um retrato
A verdade é que não pisarás mais a grama do jardim da casa,
não sujarás o tapete de entrada de poeira grossa,
nem sequer mais baterás à porta,
não me farás te espiar da janela,
não entrarás inconvenientemente,
e bobo não se poria mais a sorrir,
enquanto adentraria na casa
e perguntarias “ Há alguém aí?”
Até que então ouvisses uns passos
e corresses para os fundos,
para me encontrar oferecendo-te um abraço,
sorrindo descompassada,
sofrendo de arritmia repentina, emocionada,
por perceber-te alí vivo, mais nada...
Mais a verdade é que não,
quisera eu que sim, que tu estivesses,
nessas situações do meu mundo.
Ah, se então tu pudesses,
eu prenderia os segundos,
pro tempo permanecer intacto,
como se vivêssemos sempre,
o momento de um retrato...