Abril

Abril de novo,

e de pensar que éramos inocentes e achávamos que o tempo não iria passar

mas aqui estamos,abril de novo,na verdade final de março

quem se importa?

a vida não é feita de datas exatas,

apenas os homens que gostam de as exaltar

e de pensar que eu rezei pra abril nunca passar

mas passa,sempre passa

e dois anos depois ,estamos aqui

Abril de novo

já nem me dói os meus enganos,já não me dói a partida

não,não,as vezes tento lembrar da sua face mas sem sucesso

e a dor que sinto fica no ar feito uma fumaça que não exala

mas não me permite respirar

Abril de novo

O outono nunca nos perdoa,caem as folhas como caem minhas magoas

E eu me pergunto

O que foi feito nesses dois anos?

Contas?textos?sonhos?

E eu me pergunto

O que foi feito de minha vida inteira?

Um engano,minha senhora,apenas um engano

Deitei minha alma em um canto qualquer

E me esqueci de pega-la de volta

Me esqueci até mesmo de me preocupar em pega-la

Mas acho que ela até já me esqueceu também

Abril de novo

digito esse texto como presente a todos os abris que eu hei de viver

Quando fizermos 50 anos de suposição talvez faremos uma festa

Com todos os filhos que não quisemos ter

E vamos brindar,todos os abris que eu não vivi

Porque é outono,e tudo que nasce no outono

Já nasce morto,

e eu não sei mais porque eu me preocupo em lembrar

Abril de novo,de novo abril

voltemos a colocar um rumo na nossa vida

chega de te escrever poemas escrotos

(A maior benção que foi concedida aos humanos,é que somos permitidos a lembrar com exatidão apenas os fatos,e a simplificar os sentimentos na memória apenas com um simples e pobre substantivo)