ATROZ SOFRIMENTO

Sentado num banco qualquer

de uma antiga praça gramada.

Um velho indigente,

pensando na vida...

bebendo cachaça.

Embaixo do banco,

oculto no escuro da praça.

O companheiro fiel...

um zeloso cãozinho vira lata.

Sentinela atenta aos perigos do mundo.

De olho grudado no velho barbudo...

amigo de vida parceiro de estrada.

Rugas no rosto,

unhas compridas e roupa rasgada.

Migalha de pão grudada na barba.

Cigarro na boca...

soltando fumaça.

Olhos d´água vagando distante,

pelo céu de estrela e lua de prata.

Pelos mistérios da vida...

e infinito da alma.

Abismo profundo...

dor que não passa!

Sofrimento constante, ferida em brasa.

Lembrança antiga da musa amada.

Do aroma de flor, dos olhos faceiros...

Sorriso de fada e pele dourada.

Outras lembranças,

do velho indigente, invadem a alma.

Do tempo de moço galante, do carro do ano, do terno e gravata.

Dos corpos amantes rolando na relva da praça gramada.

Dos lábios de néctar, da boca de deusa e olhos de gata.

Das juras de amor sob o céu de estrela e lua de prata.

De repente...

no silêncio da noite um suspiro profundo.

Doloroso grunhido do anjo canino embaixo do banco.

Como quem entendendo do velho amigo o atroz sofrimento.

Pelo triste lembrar do voraz abandono,

daquela infeliz alma cativa!...

escrava do amor!

escrava da vida,

escrava do mundo.

Jaíres Rocha
Enviado por Jaíres Rocha em 30/03/2010
Reeditado em 28/12/2010
Código do texto: T2168157
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