Solidão
O vento frio bate na janela me chamando
Anuncia a chuva da previsão do tempo
Procuro um casaco de lã que me aqueça
Mas esse gelado está no sentimento interior
Apegado a essa vida que não reconheço mais
Nessa cama que não tenho com quem dividir
Nessa casa sem sorrisos ou perfumes
Saio para caminhar pelo meio fio
E só encontro mais solitários na rua
Todos parecem se esconder em si mesmos
Desejam fugir para um buraco negro no universo
Estar em outra dimensão bem longínqua
Dia nublado em tom cinza
Não há pássaros cantando
Não há música no auto-falante
Só o silêncio apressado e impessoal
Passos rápidos no cimento da calçada
Pessoas que me desviam os olhares
Vazio que permanece em mim
Grito emudecido em minha garganta
Caminho interminável sem um destino previsto
Vejo nas vitrines das lojas o reflexo de quem amei
Lembro de seu sorriso ao ver um cachecol colorido
De como o enrolava em mim para brincarmos
Memórias de um tempo que findou tão cedo
Agora somente retratos em preto e branco
Que não expressam tudo o que vivemos
Mas cristalizam seu abraço em mim
Sozinho retorno ao parque onde corremos
Na grama onde rolamos e fizemos piqueniques
As árvores por testemunhas de nossos momentos
Das juras de amor que fizemos entre carícias
Quando tentávamos pegar as flores soltas na brisa
Com nossos corações tão leves e alegres
Agora nem mesmo as folhas planam no ar
Os bancos estão úmidos pelo orvalho da noite
Estou ali parado tentando aprisionar o passado
Talvez acreditando com isso abrir um portal
Esperando a máquina do tempo que me leve de volta
Querendo reverter a polaridade do mundo da física
Retornar aos braços de quem nunca deixei de amar
Mas vontades não se realizam num querer solitário
Sigo de volta pra casa onde somente o cachorro me espera
Sentado no escuro choro ao recordar que um dia fomos felizes...