FANTASMAS DO TEMPO

Naquela mesinha do canto

Onde já assenta a poeira

Há a figura dum Santo

E ao lado uma cadeira.

Ao Santo já fiz promessa

Trazia a Vida em sobressalto

Mas um dia com a pressa!?

Para chegar lá mais alto

Ao esconder os meus segredos

Deixei a vida escapar pelos dedos.

Tombei a jarra, morreram as acuçenas

E também as minhas esperanças

O diário onde assentava minhas penas

Com a àgua, não resistiram as lembranças.

Mas a mesinha do canto resistiu

E ali ficou anos sem lamento

Tem o pó, mas ninguém viu!?

Ao lado a cadeira onde ainda me sento.

Mas foi dura a minha sorte!

E o Santo também não perdoou

Ficou a Vida p'la hora da Morte

Feita cárcere me engaiolou.

De vez em quando olho a poeira

Que os anos tão bem assentaram

Pobre de mim e da cadeira

Que os fantasmas do tempo mascararam.

natalia nuno