MEMORIA DUM TEMPO ÍDO

Já choram de novo os beirais

Me embalo com o seu choro

A solidão pesa demais

Por um dia de sol imploro.

Cai a chuva como pranto

Desesperada no chão

Também o meu desencanto

Açoita o meu coração.

Já choram de novo os beirais

Lágrimas do céu em desespero

Cantam os pássaros seus ais

E eu à Vida que tanto quero.

Não levo pressa de chegar

Quem sabe numa madrugada molhada

Ou quando o tempo amainar

E a Vida p'ra mim fôr nada.

Já não choram mais os beirais

Se calam em descanso merecido

Já são memória nada mais

Memória dum tempo ído.

Agora sou eu quem chora

Porque já se encurta a Vida

Meus sonhos foram embora

Ando de sonhos despida.

natalia nuno