BARCO SEM MAR

Ansioso barco, velhas chaminés,

que praia seca todo o mar secou?

Na esteira de quais ondas e marés

teu navegar de sonho naufragou?

Largado barco que falaste às águas,

guardas no casco a forma, o gosto, a voz

de ondas, fosforescências, peixes, algas,

e no mastro o voejar de um albatrós.

Cracas vivas em ti se multiplicam

ávidas de sal, de oceano e léu.

Espumas esbranquiçadas dançam

num bordo sem memória, barco ilhéu!

Ó, barco ilhéu, na areia encravado,

ó, leme entorpecido, já sem mão,

chaminé do tempo esfumaçado,

gume da quilha, proa sem o vão.

O débil curvo nome do infinito

lavado pela espuma e solto no ar.

Que água apagou o nome escrito,

barco sem nome e só, barco sem mar?

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Chaplin
Enviado por Chaplin em 03/03/2010
Código do texto: T2118686
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