MÁGOA (LEMBRANÇA)

Meu pai tinha uma charrua

Ganhava o pão com a enxada

Conhecia as fases da Lua

Mas escrever não sabia nada.

Trazia as mãos calejadas!

E uma tristeza no seu olhar

Mas nós eramos filhas amadas

Não saber,não conseguiu perdoar.

Cavando, sua mágoa esquecia

Derramando dia a dia seu suor.

Mas á noite sabia o que não lia

Dava-se ao respeito dando amor.

Nunca se deu por vencido

A arte era mesmo cavar suando

A mágoa nunca ter escrito, lido

As letras que ele amava tanto.

Me dizia:

Escreve aí para o pai ver.

Dez réis de gente se és capaz!?

Faz da escola o teu dever

Que só de olhar me satisfaz.

Se eu pudesse?!

Ah se pudesse atrás voltar

A matar-lhe esta sede e a fome

Haveria de lhe ensinar

A escrever e a ler, nem que fosse só

Seu nome!