A MORTE DO POETA
Adormecido entre flores incolores
Sentindo os sabores e os dissabores
Radicado nos odores de tais dores
Ex-amores, tantos suores e louvores.
O céu rasga torto o corpo morto
Expõe a ferida aberta irrequieta
O sangue sem lucro em invólucro
Se encerra calmamente e latejante.
Caminha terna à morada eterna
Silente em abstrato pé ante pé
E vozes bentas e outras agourentas
À julgar o ato injusto do augusto.
No recinto agora tão frio e vazio
Deste homem jaz vadio e arredio
Sofre agora o escárnio do seu brio
Desdenhado no seu atavio e desvario.
A saudade terrena retórica serena,
A alma lateja no obscuro sem futuro
Enfim, será julgado pelo seu legado
Lá Deus dá o sinal para seu juízo final.