SACOS DE ALFAZEMA NA GAVETA

Tinha um quarto de janelas altas

Onde punha a arejar a roupa

Para que não houvesse faltas

Já que a roupa era pouca!

Punha flores frescas no quarto

Sacos de alfazema na gaveta

Em cima da cómoda o retrato

Da criança sorridente, mas inquieta.

Às vezes minha vida começa de novo

Nada é obstáculo à minha fantasia

Sou como princesa num pequeno povo

Sonho de noite e de dia.

Limpo minha mente de teias de aranha

Faço das palavras o meu instrumento

Ponho a descoberto tudo que é sentimento

E a minha poesia sonha que assim ganha.

Mas hoje podei uma trepadeira

Que dá flores brancas no Verão

As outras esperavam em fila ordeira

Deitei meus joelhos ao chão.

Me emocionei com os pedaços partidos

Ali caídos!

Parecendo-se com minhas recordações

Também eles não voltariam a dar botões.

Tenho agora as mãos manchadas

Cobertas de terra e arranhões

Minhas ideias cansadas...

Mas meu tempero é de esperança!

E eu sonho,ainda,

Como quando era criança.

rosafogo