DA SAUDADE DO POETA
Andei louca
A trocar de roupa
E a roupa que encontrei
Tinha traços de tuas mãos
Então joguei os lençóis
Ia trocar também a cama
Mas os panos que cobriam tudo
Eram feitos de gemidos teus
Ai doeu fundo
sai desvairada
Corri pela madrugada
Tentei outro mundo
Ia lavar o rosto
Retocar o batom
Achar um outro tom
Mas o acorde que tocava
Surdo, incessante, enlouquecedor
Era você na canção
Ai...que dor !
Como pode ser assim ?
Depois de tantas roupas que troquei
Você ainda está em mim
Como pode ter tanto de você nas coisas que toco
Eu não era você antes disso tudo
Eu era talvez um ser amorfo
E agora que te encontrei em ti a toda hora me transformo
E depois que te perdi nada mais tenho, perco o sono
Não sei mais o que ser
Pra esquecer de panos, traços teus em todo lugar
Eu me encolho quieta,
Sinto me tão pequena a esperar
Que talvez um dia
Partes de ti em mim morram de vez
E eu não mais sinta que apenas a teu lado
Toca o acorde certo, o batom retocado, o lençol trocado
Porque mesmo que sejas enfim um fato passado
Estarás dentro de mim, serás meu movimento calado
E aqui permaneço neste ato
À espera de teu retorno pra valer a pena
Trocar de roupas, cantar desafinado
Porque o acorde, a cama, o rosto
Tudo contigo possui o mais doce significado...