DA SAUDADE DO POETA

Andei louca

A trocar de roupa

E a roupa que encontrei

Tinha traços de tuas mãos

Então joguei os lençóis

Ia trocar também a cama

Mas os panos que cobriam tudo

Eram feitos de gemidos teus

Ai doeu fundo

sai desvairada

Corri pela madrugada

Tentei outro mundo

Ia lavar o rosto

Retocar o batom

Achar um outro tom

Mas o acorde que tocava

Surdo, incessante, enlouquecedor

Era você na canção

Ai...que dor !

Como pode ser assim ?

Depois de tantas roupas que troquei

Você ainda está em mim

Como pode ter tanto de você nas coisas que toco

Eu não era você antes disso tudo

Eu era talvez um ser amorfo

E agora que te encontrei em ti a toda hora me transformo

E depois que te perdi nada mais tenho, perco o sono

Não sei mais o que ser

Pra esquecer de panos, traços teus em todo lugar

Eu me encolho quieta,

Sinto me tão pequena a esperar

Que talvez um dia

Partes de ti em mim morram de vez

E eu não mais sinta que apenas a teu lado

Toca o acorde certo, o batom retocado, o lençol trocado

Porque mesmo que sejas enfim um fato passado

Estarás dentro de mim, serás meu movimento calado

E aqui permaneço neste ato

À espera de teu retorno pra valer a pena

Trocar de roupas, cantar desafinado

Porque o acorde, a cama, o rosto

Tudo contigo possui o mais doce significado...

Adriana Alves (Poetisa Lancinante)
Enviado por Adriana Alves (Poetisa Lancinante) em 10/02/2010
Código do texto: T2079377
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