Ilusões
Roncam febris os motores,
Tornam-se os passos ligeiros;
Acenam os passageiros,
Partem ônibus lentamente.
Ilusões correm na frente,
Buscando pelas janelas,
Nas estradas paralelas,
Um novo sol no nascente.
Alguns, por certo, retornam
Sem saber que não saíram,
E muitos outros partiram
Talvez sonhando encontrar
Por acaso, em algum lugar,
A paz que um dia voou,
Não fugiu - ela ficou:
Não souberam cultivar.
Já se percebe o distante
E o longe logo se alcança;
Ouve-se a voz de crianças
Quebrando a monotonia;
As expressões de alegria,
Nascidas na ingenuidade,
Traduzem a felicidade
Que o adulto teve um dia.
Multiplicam-se os abraços
Num ritual que enternece,
E todo aquele que desce
De um afago tem anseio.
Mas sozinho, no passeio,
Alguém que a tudo assistiu
Não chorou e não sorriu:
Esperá-lo ela não veio.
E em meio àqueles que esperam
Brilham olhos de ansiedade,
Exteriorizando a saudade
De alguém que deve chegar;
Aguardou, sem encontrar,
Viu o último descer
E não conseguiu esconder
Uma lágrima no olhar.
Jorge Moraes - Livro: Acalantos