Ilusões

Roncam febris os motores,

Tornam-se os passos ligeiros;

Acenam os passageiros,

Partem ônibus lentamente.

Ilusões correm na frente,

Buscando pelas janelas,

Nas estradas paralelas,

Um novo sol no nascente.

Alguns, por certo, retornam

Sem saber que não saíram,

E muitos outros partiram

Talvez sonhando encontrar

Por acaso, em algum lugar,

A paz que um dia voou,

Não fugiu - ela ficou:

Não souberam cultivar.

Já se percebe o distante

E o longe logo se alcança;

Ouve-se a voz de crianças

Quebrando a monotonia;

As expressões de alegria,

Nascidas na ingenuidade,

Traduzem a felicidade

Que o adulto teve um dia.

Multiplicam-se os abraços

Num ritual que enternece,

E todo aquele que desce

De um afago tem anseio.

Mas sozinho, no passeio,

Alguém que a tudo assistiu

Não chorou e não sorriu:

Esperá-lo ela não veio.

E em meio àqueles que esperam

Brilham olhos de ansiedade,

Exteriorizando a saudade

De alguém que deve chegar;

Aguardou, sem encontrar,

Viu o último descer

E não conseguiu esconder

Uma lágrima no olhar.

Jorge Moraes - Livro: Acalantos

Jorge Moraes
Enviado por Jorge Moraes em 19/01/2010
Código do texto: T2038161
Classificação de conteúdo: seguro