AS MÃOS NO MEU CHÃO!!!
Que as paredes da sala onde habito
Onde se pendem cortinas e lustres
E se olho para teto é apainado
Reflete o chão em que piso
Tem um imenso corredor
Que em tábuas de marfim
Conserva imenso brilho
E podem contar a história
Que morreu na flor dos anos
O tempo não respeita a formosura
E o chão da minha sala limpo e lustro
Depois lavo as mãos em espaçosa pia
Sento na minha mesa de consultos
E posso folhear livros e grandes feitos
Olhar fotos de um passado desfeito
Decidir pleitos e cantos da poesia
Mas meus olhos queimados em cataratas
Fixam-se no chão e depois em minhas mãos
Como a dizer que não existe mais beleza
O primeiro em seu brilho mostra-me a face
Que tem remota idade e é enrugada
Que já teve males e venturas
Torturas íntimas do poeta
A lenta mão zomba do meu braço
E tremula um coração frouxo com breves dias
Arrasto no meu chão qual campo minado
Arranca meus ossos brancos e meus passos
A conter minha vida em sábia vida
E assim o chão reflete as cicatrizes
A grata posse que do meu bem difere
Que entorpece o corpo tão cansado
E o antigo semblante engraçado
Pelas chagas e cicatrizes
Talvez, quem sabe, pode dizer
cordas de ouro abandonadas
E as mãos seguram que peito meu?
Que me oprime a garganta
Ou que seguram austera boca
Porém em olhos choram...
Mãos que escondem lágrimas abençoadas
Que ergue do meu chão eternos laços
Que perdure a inocência feliz...
Que possa vencer o mundo inteiro...
que pode ser de glória
na flor inerte dos meus anos!
bhz, 11 de janeiro de 2010 às 14h52m