Eclipsis
Hoje minha alma amanhece de novo,
buscando o poente nas águas.
Hoje recebo o vento esfumando a luz das minhas alvoradas.
Sinto, devagar e contíguo, o mortuoso sabor do nada
se aproximar com gloria e subsídios,
se aproximar e caber-me.
Não creio que tenha calado, mais que o mudo que falar não sabe
a incógnita sempre erudita, incita a que lhe faça perguntas,
É sua essência maldita e perfeita, gerar vazios e dúvidas.
Mas tarde, quando ninguém me veja, acercar-me-ei à beira da fossa cavada.
Mais tarde quando o negro relógio hospede as horas passadas,
serei invisível e opaca, serei lodo de minhocas e larvas,
serei húmus de charcos ancorados,
tudo que fui em vida, mas, sob tuas plantas.
E haverá imagens completas,
fotos velhas de felicidades oxidadas, costurando os mundos do homem,
aproximando abismos, opostos, distraindo o esquecimento de alguém,
diluindo a dor da eterna saga
E você saberá que sinto sua falta
logo agora que ela me alcança.
E você saberá o farsante que fui,
prometendo amores escravos da mãe foice.
E outra vez os olhares esquivos, insinuando que nada acontece.
Outra vez a lua jogada no alvo que vimos, pintando o cais.